Pobreza nas Escolas!
Quando a petição Pelo Pequeno-Almoço na Escola atinge quase 10 mil assinaturas em poucas semanas, isso significa que há muita gente alarmada com a pobreza nas salas de aula:
- Cerca de 9900 portugueses pedem aos governantes que crianças e adolescentes não fiquem em jejum até à hora do almoço.
A primeira refeição da manhã, no entanto, já é fornecida aos alunos mais carenciados em boa parte das escolas básicas do país. Mas não é um suplemento alimentar servido a meio da manhã ou à tarde que resolve todos os problemas, avisam professores, pais, directores ou funcionários dos estabelecimentos de ensino público.
A fome nas escolas não acaba com um copo de leite, uma maçã e uma sandes de queijo, servidos antes de os alunos entrarem na sala, nem a pobreza é fácil de detectar no meio de turmas com 30 alunos. Mas desde o iníciodo ano lectivo de 2012, os casos de miséria escondem-se cada vez menos.
Quando as crianças vão ter com um funcionário a pedir um pão com manteiga é porque há fome. A conclusão é de Ester Galiano, professora bibliotecária no agrupamento de Marvila, em Lisboa.
Quando os professores aproveitam as sobras do refeitório para dar aos alunos, é porque também há fome, afirma Vicente Dias, director das escolas Fernando Casimiro Pereira da Silva, em Rio Maior.
Quando as cozinheiras da escola D. Martinho Vaz de Castelo Branco fazem um lanche para as crianças levarem para casa, é porque há alunos a passar por muitas dificuldades, alerta Miguel Cruz, dirigente da Associação de Pais do Agrupamento da Póvoa de Santa Iria, em Vila Franca de Xira.
Quando os professores e funcionários da Escola Maria Alberta Meneres, em Sintra, trazem roupa, mochilas e ténis para os alunos não andarem rotos e com frio no recreio, é porque a pobreza já não tem muito mais lugares onde esconder-se.
Não é de agora esta pobreza. Tornou-se mais convincente durante o ano lectivo de 2012, esclarece o director das escolas de Arcos deValdevez, em Viana do Castelo.
Basta olhar à volta:
- Mais de 60% dos alunos beneficiam da acção social escolar e 700 dos 1400 alunos comem todos os dias no refeitório.
- Na escola básica integrada de Bucelas, as crianças carenciadas passaram de 45% em 2011 para 48% no ano lectivo de 2012, conta o director António Marcelino.
Mas também existe uma pobreza irracional!
É uma pobreza irracional, aquela que entra nas salas de aula, avisam professores e directores!
"Não há dinheiro para comprar material escolar, mas isso não os impede de ter um telemóvel de luxo nem uns ténis de marca", explica Ivan Ivanov, director das escolas de Marvila.
"As crianças não têm 1,46 euros no cartão da escola para pagar o almoço, mas gastam dois euros em gomas", avisa Elisabete Moreira, directora das escolas Maria Alberta Meneres.
"Há alunos capazes de desperdiçar peixe e sopa no refeitório e sair da escola para se empanturrarem de batatas fritas, chupas ou refrigerantes", esclarece António Marcelino.
Em boa parte dos casos, é difícil perceber onde acaba a miséria e começa a incapacidade das famílias de gerirem os orçamentos domésticos.
"Neste capítulo, as escolas não conseguem pouco", diz Elisabete Moreira: "Ensinar as famílias a definir prioridades e a incentivar os filhos a terem hábitos alimentares saudáveis e até mais económicos é um trabalho que está fora do nosso alcance".
O que está por enquanto ao alcance dos professores, é saber que quando as crianças chegam ao gabinete do director entre as 9h e as 10h com dores de barriga é porque estão de estômago vazio.
"No início, quando estas situações começaram a surgir, pensámos que eram apenas indisposições temporárias e mandávamos os alunos para o bar tomar um chá", conta Elisabete Moreira. Com o tempo perceberam que é a fome das crianças a roncar na barriga.