Familiares das vítimas podem processar Air France
Responsáveis brasileiros afirmam que as buscas de corpos das vítimas do voo 447 da Air France vão continuar na mesma área do Atlântico até dia 19. Ou 25 se continuarem a surgir corpos. Até agora, só 41 apareceram no local do acidente.
A família de uma das vítimas francesa do voo AF447, que se terá despenhado na madrugada do passado dia 1 com 228 pessoas a bordo, decidiu constituir-se parte civil na informação judicial aberta em Paris, o que lhe dá acesso ao dossiê de investigação. Enquanto isto, no Brasil, familiares dos desaparecidos ponderam a hipótese de processar a Air France, mas nos tribunais europeus, afirmam, a lentidão da justiça brasileira.
Nelson Faria Marinho, o militar na reforma que perdeu o filho na tragédia, afirmou à revista brasileira Veja que pretende processar a Air France pela morte do familiar, mas tenciona fazê-lo na Europa: "A nossa justiça é arcaica e demorada. Há interesses de algumas famílias de entrarem na Justiça na França e não aqui".
Por seu turno, Leonardo Amarante, advogado e especialista em responsabilidade civil no Direito Aeronáutico, considera também que o processo fora do Brasil pode ser o melhor caminho.
"As pessoas não podem agir por impulsos, mas em princípio é a solução mais adequada. A família moverá a acção no tribunal do qual está dependente a sede da empresa", disse o advogado, adiantando que "estrategicamente é mais coerente entrar com o processo no país responsável pela investigação ao acidente".
O Brasil, através da sua Força Aérea e Marinha, está a coordenar as operações de busca e resgate das vítimas e dos destroços mas a responsabilidade por apurar as causas da tragédia pertence ao Estado francês.
De acordo com a Veja, a decisão dos familiares das vítimas brasileiras - num total de 59 - prende-se com o facto de a Air France ter anunciado que irá trocar os sensores de velocidade a todos os seus Airbus A330, o modelo do avião que se despenhou no Atlântico.
Em Paris, familiares das vítimas também recorrem ao tribunal para obter respostas. Na semana passada, as famílias de duas vítimas apresentaram uma queixa simples em Paris por homicídio involuntário mas não se constituíram parte civil do processo. Essa decisão foi tomada, ontem, pela família de outra vítima, para ter acesso a toda a informação judicial. Sopeie botai, advogada da família, explicou existir o sentimento de que "não foi dita toda a verdade" e que existe uma "manifesta filtragem da informação."
"As famílias apenas querem ter respostas legítimas às suas legítimas questões; por exemplo, a última mensagem do avião foi enviada às 04.10 e até às 06.30 ninguém se questionou por não ter notícias da tripulação. Porquê?", perguntou botai, sublinhando que as famílias sabem que as respostas sobre o que aconteceu de facto só serão conhecidas "possivelmente dentro de anos".
É para encontrar respostas concretas que o submarino nuclear francês Emeraude prossegue, desde quarta-feira, as buscas das caixas negras na área onde terá ocorrido o acidente do voo 447. Ao mesmo tempo e apesar do mau tempo que se faz sentir, helicópteros e fragatas brasileiros e franceses intensificam também as buscas na mesma área para encontrar e resgatar corpos e destroços.
Segundo responsáveis brasileiros, as buscas na área irão manter-se até dia 19 - mas podem ir até dia 25 -, porque, tendo em conta as correntes, não é plausível que continuem a aparecer corpos no mesmo local. Por exemplo, o mau tempo não deixou resgatar corpos que foram avistados na quarta-feira à tarde já em águas senegalesas. E ontem, mais corpos foram avistados. Tudo isto quando os primeiros 16 cadáveres foram levados para Recife onde serão identificados.
fonte.dn