Moscovo ameaça rever cooperação militar-industrial c/Kiev caso a Ucrânia adira à NATO
28 de Junho de 2008, 18:39
Moscovo, 28 Jun (Lusa) - O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, declarou que o seu país será obrigado a pôr fim à cooperação com as empresas ucranianas que se dedicam ao fabrico conjunto de tecnologias sensíveis, como mísseis, caso a Ucrânia adira à NATO.
"No que diz respeito a tecnologias sensíveis, principalmente tecnologias de fabrico de mísseis, essas produções serão transferidas para o território da Rússia" caso a Ucrânia decida aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), declarou hoje Putin, numa conferência de imprensa após um encontro com a homóloga ucraniana, Iúlia Timochenko.
O dirigente russo voltou a repetir para que ficasse bem claro: "No que respeita às tecnologias sensíveis, e claro que iremos pensar antecipadamente nisso, semelhantes produções, independentemente das despesas, serão transferidas para o território da Federação da Rússia".
"Muitas das empresas ucranianas não conseguirão trabalhar segundo os padrões da NATO", acrescentou Putin, ressalvando que "algumas até poderão, mas isso irá exigir sérios investimentos suplementares".
Vladimir Putin recordou aos ucranianos que os próprios russos fabricam "tipos de armamento segundo padrões da NATO" e concorrem "com eles com êxito nos mercados mundiais".
"Neste sentido, talvez possamos continuar alguma cooperação", acrescentou.
O dirigente do Governo russo voltou a sublinhar que a parte russa "considera contraprodutivo qualquer alargamento da NATO do ponto de vista da segurança internacional. Esse alargamento não elimina nenhuma nova ameaça, cria apenas novas linhas divisórias".
Porém, Putin frisou que "a escolha é dos países que decidem juntar-se a este ou aquele bloco, cuja adesão, sem dúvida, limita a sua soberania. Mas isso é um assunto interno desses países".
Estas declarações foram uma reposta à declaração, feita pela primeira-ministra ucraniana Iúlia Toimochenko, de que a decisão da adesão do seu país à NATO terá lugar apenas depois da realização de um referendo nacional.
"No que respeita à adesão da Ucrânia à NATO, posso declarar com firmeza que a opinião do povo da Ucrânia é determinante para nós e, por conseguinte, qualquer caminho que a Ucrânia percorra nesse sentido será realizado depois de um referendo nacional, onde o povo da Ucrânia poderá dizer a sua palavra", declarou Timochenko.
Iúlia Timochenko anunciou também que o seu país irá continuar a comprar combustível nuclear à Rússia para as suas centrais, não obstante os contactos com os Estados Unidos.
"Somos parceiros tradicionais no sistema da energia atómica. Isso irá continuar, porque estamos ligados pelas tecnologias", declarou.
"A Ucrânia necessita de diversificar os fornecedores de combustível nuclear, mas isso não significa o fim da cooperação com a Rússia", disse também a responsável ucraniana.
Os primeiros-ministros russo e ucraniano acordaram que o acordo sobre a permanência da Armada Russa do Mar Negro em território ucraniano é para cumprir até ao fim da sua vigência, em 2017.
"Existe um acordo até 2017. Esse acordo será cumprido, tal como está previsto para acordos destes: de forma muito cuidadosa e sem desvios", declarou Timochenko.
Vladimir Putin manifestou-se satisfeito: "Partimos do princípio de que existe um acordo, ratificado por ambos os parlamentos, e que ele será cumprido".
No passado 20 de Março, Victor Iuschenko, presidente da Ucrânia, ordenou ao Governo que preparasse um projecto-lei sobre o fim da vigência do acordo russo-ucraniano que regula a permanência da Armada Russa do Mar Negro no território do seu país a partir de 2017.
Na mesma ocasião, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia considerou que essa ordem de Iuschenko não contribuía "para o reforço da atmosfera de confiança entre os dois países".
Esta visita de Iúlia Timochenko a Moscovo é vista em Kiev como mais um passo da primeira-ministra para reforçar as suas posições no confronto com o Presidente Iuschenko.
A chamada "maioria democracia", formada no Parlamento pelos partidos que apoiam Timochenko e Iuschenko, está a desintegrar-se, o que faz prever a realização de eleições parlamentares antecipadas ainda este ano.
JM
Lusa