Tibete: Protestos contra a administração chinesa espalham-se pela China
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Tibete: Protestos contra a administração chinesa espalham-se pela China
Pequim, 17 Mar (Lusa) - Os protestos contra a administração chinesa no Tibete estão a espalhar-se da capital tibetana para outras províncias da China, com o governo chinês a ameaçar hoje tratar os manifestantes de consequências "severas".
Ao mesmo tempo que Pequim enfrenta novas vagas de protesto nas províncias de Sichuan, Gansu e Qinghai, região ocidental do país, o governador da região, Champa Phuntsok intimou hoje os manifestantes tibetanos para que se rendam até ao final do prazo dado por Pequim, a meia-noite de hoje (16:00 de Lisboa).
"Aqueles que cometeram crimes graves serão tratados com severidade", disse Champa Phuntsok em conferência de imprensa onde prometeu também que se o manifestantes "se entregarem serão tratados com clemência, e se fornecerem mais informações sobre outros envolvidos serão tratados ainda com maior clemência".
Com o prazo para a rendição cada vez mais perto, o sentimento anti-China vai-se espalhando pelas províncias de forte influência tibetana e onde existem templos budistas.
"Aqui em Gansu os protestos são cada vez mais arrojados, com manifestantes a carregar fotografias do Dalai Lama em público", disse à Agência Lusa um jornalista ocidental na província.
Estar na posse de fotografias do líder espiritual tibetano no exílio desde 1959 é um crime na China, punível com penas de prisão.
Na região de Aba, Sichuan, a polícia paramilitar, responsável pela supressão de motins, tentou impedir uma manifestação de monges tibetanos, segundo o Centro para os Direitos Humanos no Tibete e a Campanha pela Libertação do Tibete, grupos activistas pró-tibetanos.
Em informações ainda sem confirmação, oito corpos deram entrada na morgue, um polícia morreu em Aba e vários veículos policiais arderam, segundo o relato de uma testemunha, com os dois grupos de defesa da causa tibetana a dizer que pelo menos trinta manifestantes morreram.
"Nota-se que há muitos mais polícias nas ruas", disse à Agência Lusa um funcionário do hotel Jinchuan Dashu, na cidade de Aba.
Uma funcionária do Departamento de Informação do governo local, de apelido Lamu (comum entre a população tibetana) disse à Agência Lusa não ter nenhuma informação sobre confrontos ou sobre movimentações militares.
Em Gansu, as autoridades isolaram um mosteiro budista na cidade em Xiahe e colocaram hoje barreiras militares nas estradas que saem de Lanzhou, a capital da província, ao mesmo tempo que enviaram elementos da polícia paramilitar para reforçar os efectivos na região, segundo testemunhos.
Em Tongren, Qinghai, a polícia paramilitar impediu também uma manifestação de dezenas de monges enquanto Sichuan foi palco de uma manifestação no Domingo onde cerca de 200 pessoas atacaram uma esquadra de polícia, segundo o Centro para os Direitos Humanos no Tibete.
O mesmo grupo afirma que pelo menos 13 pessoas morreram nos protestos com outros relatos a apontar para sete mortos, com os manifestantes a lançar cocktails Molotov contra a esquadra e a polícia a disparar gás lacrimogéneo.
A China define as manifestações anti-chinesas no Tibete e nas outras províncias como "manobras de propaganda" por parte de "um pequeno número desordeiros" que Pequim diz serem manipulados "pelo grupo independentista do Dalai Lama", para justificar a repressão dos manifestantes como uma legítima defesa da soberania chinesa.
O Dalai Lama, por seu lado, insiste que não deseja a independência do Tibete mas sim uma "autonomia significativa".
O governador Champa Phuntsok voltou hoje a garantir que as forças de segurança chinesas "não carregaram ou utilizaram quaisquer armas mortais" ao lidar com as manifestações de Lhasa, apesar de testemunhas oculares - incluído turistas ocidentais - dizerem que a polícia paramilitar está armada com armas automáticas M16 e que disparam tiros ocasionais.
Pequim diz que as manifestantes são responsáveis pela morte de 13 civis, enquanto o governo tibetano no exílio fala de 80 mortos em resultado da repressão sobre os protestos.
Num sinal de que a tensão poderá vir a escalar ainda mais, o jornal oficial Tibet Daily diz que o secretário-geral do Partido Comunista do Tibete voltou à região no fim de semana, abandonando Pequim, onde participava na sessão anual da assembleia legislativa chinesa.
Zhang Qingli, notório pelas suas posições ortodoxas pró-Pequim, é o mais alto responsável político do Tibete e, segundo o jornal, encontrou-se com as forças de segurança em Lhasa.
Segundo Zhang, as forças de segurança asseguraram "uma vitória inicial" e Lhasa está agora em paz, uma ideia que o governo central chinês vem também fazendo coro, com a agência noticiosa oficial chinesa a referir que as escolas da cidade reabriram hoje.
Os habitantes de Lhasa dizem no entanto que se mantêm em casa e que os tanques estão ainda na rua e que o governo pediu à população para manter as portas trancadas.
As manifestações de Lhasa começaram a 10 de Março, na data em que os tibetanos lembram a entrada na região do exército chinês em 1959.
As manifestações tornaram-se violentas na sexta-feira com os residentes tibetanos a atacar chineses de etnia Han e Hui, queimando casas e veículos, na maior demonstração de protesto contra a China desde 1989.
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2008-03-17 07:55:01